BRDE quer aumentar presença nos municípios catarinenses
17/06/2019

 

 

Professor da UFSC, é graduado e mestre em Contabilidade, com Doutorado em Engenharia de Produção, na área de Inteligência Organizacional. Foi membro titular do Conselho Deliberativo da Fundação ELOS de Previdência Complementar.

Marcelo Dutra está há pouco mais de um mês na presidência do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), que abrange os três estados do Sul – Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul – e ainda o Mato Grosso do Sul. Ele fez parte do governo de transição depois da eleição do governador Carlos Moisés da Silva e hoje comanda uma estrutura que conta com 463 e é responsável por um Ativo total de R$ 17,3 bilhões, dos quais R$ 13,5 bilhões estão na carteira de clientes.

O novo presidente do BRDE disse, em entrevista exclusiva concedida à rede ADI-SC, SC Portais, Adjori-SC e RCN Online, que está gostando da experiência. “Como sou professor de Contabilidade e Finanças, estou vivendo uma realização pessoal muito grande”, observou ao comentar a importância do BRDE para o Sul do país e a elevada capacidade da equipe técnica. E arrisca:

 

“A meta é essa. Um aumento significativo sobre o ano passado.

Aproximadamente 25% maior.”

 

ADI-SC/Adjori-SC – O senhor assumiu a presidência do BRDE há pouco tempo. Quais foram as primeiras ações nesse período?

Marcelo Haendchen Dutra – Estou à frente do banco faz pouco mais de 30 dias. Sempre quando alguém da área administrativa assume uma posição assim, a primeira coisa a fazer é um levantamento. Nesse período, bastante ajudado pela equipe, tentei focar na realidade operacional e na realidade estrutural. Lógico que eu já tinha bastante informação e conhecimento do que o BRDE representa, mas, principalmente, tentei buscar entender é onde estavam os principais entraves de oportunidade para avançar ainda mais com essa instituição que é fantástica.

 

ADI/Adjori – Quais são os entraves?

Dutra – Vou falar basicamente de duas grandes situações que, na verdade, resulta do mercado. Um entrave administrativo em que há bastante espaço para evoluirmos é ganho de eficiência. Ou seja, a implantação efetiva da gestão por resultado. Temos discutido bastante nas reuniões de Diretoria a melhoria dos processos e a melhoria dos sistemas para que o BRDE ganhe em escala alguns aspectos. A melhoria dos processos e dos sistemas nos permite agilidade na aprovação de crédito, por exemplo. Vai ser mais rápido para aprovar e conceder o crédito. Outra situação administrativa está no fato de que as instituições financeiras, nacionais e internacionais, têm apostado bastante em gestão de risco, de compliance, os governos estaduais assumindo compromisso com a integridade. Estamos tentando reforçar isso no banco, deixar o BRDE mais forte institucionalmente. E do ponto de vista operacional, estamos empenhados na priorização de segmentos, o que tem a ver com os fundings, com os fundos que vamos buscar. Temos aqui dois fundos com os quais já trabalhamos, mas agora estamos tentando ir mais forte em cima do que tem a ver, por exemplo, com o agronegócio. Quando você tem um fundo mais viável, viabiliza melhor a cadeia produtiva. E também o apoio aos governos municipais para melhorar a gestão pública, torná-la mais eficiente.

 

ADI/Adjori – Como isso deve acontecer?

Dutra – Além de ser uma instituição de fomento de crédito, o BRDE presta alguns tipos de serviço. E nós vemos no ambiente público que algumas coisas não aconteceram por dependerem exclusivamente do ambiente público, ou seja, faltou parceria com um ente privado. O banco tem inteligência e disposição para auxiliar as prefeituras para que elas possam criar suas parcerias público-privadas, para que elas possam fazer suas concessões, medidas que vão viabilizar bastante coisa dentro das prefeituras pela necessidade de colocar o ente privado para ajudar a cuidar do ambiente público.

 

ADI/Adjori – Sobre a maior atenção à gestão de risco, como isso se daria na prática?

Dutra – Temos inúmeras classificações de risco – institucional, de crédito, etc. A questão de risco é global. Eu acho que quanto maior a instância de discussão desse ambiente, quanto mais forte for a estrutura do banco em atacar todos os riscos, quanto maior for a autonomia dessa área estruturada, mais ela consegue alcançar resultados – menos risco à instituição. E aqui não estou falando de BRDE, mas como princípio de gestão de risco. Essa é a nossa ideia. Buscar uma estrutura ainda mais forte para dar esse subsídio para quem vive o dia a dia das corporações. Para o risco de crédito, vale dizer que o Banco já cumpre várias normas estabelecidas pelo Banco Central. A ideia é melhorar as estruturas que avaliam esses riscos e não passar a atender uma ou outra norma. Todas elas já são atendidas. É muito importante destacar isso. Nós temos uma estrutura de supervisão de risco de crédito. Mas a gente pode alcançar outros ambientes de risco.

 

ADI/Adjori – Algumas pesquisas apontam a confiança do empresário e do consumidor oscilando abaixo da média. Como o senhor avalia o cenário de investimento?

Dutra – Vamos pegar o histórico dos últimos períodos para tomar como referência. O BRDE tinha uma meta de contratação que foi ampliada em 25% para 2019. Por aí você verifica como a expectativa é grande. A meta para 2019 é atingir R$ 1 bilhão para Santa Catarina. Por quê? Porque já no primeiro trimestre é perceptível um acréscimo de 4% no volume das contratações. Mais do que isso. Tem ainda o aumento gradativo das consultas de viabilidade, que podem ou não virar contratos. É lógico que, por outro lado, existe a preocupação do empresário com o ambiente político, com aprovação de reforma. De certa forma, enquanto instituição financeira, o banco fica amarrado nessa situação. Nós acreditamos que quando essas reformas passarem a coisa vai deslanchar. Mas a demanda já está aquecida, e é visível.

 

ADI/Adjori – Com base em que o senhor afirma isso?

Dutra – Vou citar dois casos: um é o agronegócio e outro é o setor elétrico, sobretudo geração de energia renovável. São dois pontos que eu coloco com indício de que se quer investir. Havia uma expectativa muito grande por causa do aumento de consultas no final do ano passado. Eram possíveis investimentos represados durante o período eleitoral.

 

ADI/Adjori – Esse movimento resultou em mais contratações?

Dutra – Em parte. Houve um aumento das contratações de fato, mas um pouco aquém do que se esperava. Mas houve um aumento e isso é importante registrar porque é um bom sinal. Mesmo na insegurança, mesmo no aguardo das reformas, a gente teve um aumento.

 

ADI/Adjori – Considerando os três estados do Sul, é possível ultrapassar a marca de R$ 3 bilhões em contratações?

Dutra – A meta é essa. Um aumento significativo sobre o ano passado, aproximadamente 25% maior.

 

ADI/Adjori – Qual o perfil das contratações hoje? Que áreas estão mais ativas?

Dutra – O agronegócio e a questão do setor energético neste ano têm sido os carros-chefe. O que é possível perceber nos contratos é uma expansão do investimento e geração de novos empregos começando mais forte do que estava nos dois anos anteriores. Nos últimos dois anos, observamos investimento voltado à redução de custo, de despesa operacional. Vou te dar um exemplo. Nós temos um fundo, que é o Fundo do Turismo, que comporta situações de investimento, com consequente geração de empregos e tudo mais. E estamos correndo atrás de aumentar o funding porque o pessoal quer mais. E isso é basicamente para investimento em novos hotéis ou em expansão de empreendimentos já consolidados.

 

ADI/Adjori – E na divisão entre os segmentos público e privado?

Dutra – Nós tivemos uma reunião dos acionistas do Codesul (na terça-feira, 11 – Conselho de Desenvolvimento e Integração Sul), que são os governadores de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul. Em um dado que mostrei a eles é a questão dos R$ 13,5 bilhões que temos na nossa carteira de crédito. E demonstrei como isso está distribuído. Quando se analisa essa distribuição se percebe como o BRDE funciona como veias. Tomando os dados fechados de 2018, temos a agropecuária ocupando R$ 4,5 bilhões; outros R$ 3,2 bilhões na indústria; R$ 2,7 bilhões em infraestrutura; R$ 2 bilhões no comércio e quase R$ 800 milhões no serviço. Uma distribuição bem segmentada. Mas, no setor público, temos créditos em volume inferior a R$ 300 milhões. Portanto, é um ambiente em que podemos aumentar nossa presença, explorar com mais afinco.

 

ADI/Adjori – Por que essa diferença tão grande?

Dutra – O BRDE ficou sem financiar o setor público municipal durante muitos anos. E retomou em 2015. A partir de então, o banco vem buscando novas fontes de recursos para financiar o setor público. O próprio BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que era nosso maior fornecedor do funding não tinha muitas linhas para o setor público. Com essa volta, o banco passou a ser agente financeiro do FGTS e também do Ministério das Cidades para o Programa Avançar Cidades. Mesmo o nosso mercado sendo restrito à região Sul do Brasil, o BRDE é o maior repassador de recursos desse programa federal. Acreditamos que a evolução dessa participação é gradativa, mas não demorada.

 

ADI/Adjori – Como assim?

Dutra – Há cerca de uma semana, foi aprovado pela Cofiex (Comissão de Financiamentos Externos) a captação de 175 milhões de dólares com o Banco Mundial para investimento em projetos de prefeitura que serão aplicados para corrigir situações de resiliência urbana, como ações de prevenção a desastres naturais. O Ministério da Economia autorizou o banco a captar esses recursos internacionais para fazer os repasses. É uma oportunidade que o BRDE já vinha construindo ao longo do tempo. É bom explicar que quando falamos em poder público deixamos de fora os estados acionistas. O banco não pode financiar seus acionistas. Cada fonte de fundos nos dá uma nota, de onde vêm as possibilidades. Então, do fundo BNDES, a cada R$ 1,00 sobre o Patrimônio Líquido o BRDE pode investir cinco vezes mais. Com o fundo Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), isso passa para 6,5 vezes. Cada um analisa nosso patrimônio e define nossa capacidade de investimento. Por isso o banco conseguiria alavancar mais recursos do que seu próprio patrimônio. Existe espaço para crescer mais, mas não absurdamente mais, sem que essas notas aumentem. A título de exemplo, uma vez que o Estado do Rio Grande do Sul, que é um dos nossos acionistas, comece a melhorar um pouco nas suas finanças, pode ser que eles avaliem o BRDE com um risco menor.

 

Entrevista: Murici Balbinot/Adjori-SC

Edição e diagramação: Andréa Leonora/ADI-SC

Fotos: Ascom BRDE