Sindicatos dos eletricitários questionam Tribunal de Contas sobre viagem do presidente da Celesc a Paris

Os seis sindicatos de trabalhadores ligados aos eletricitários de Santa Catarina enviaram uma nova notificação de fato contra o presidente da Celesc, Cleicio Poleto Martins, ao Tribunal de Contas do Estado. No documento de 18 páginas, os trabalhadores acusam Poleto e o Diretor de Assuntos Regulatórios e Jurídicos, Fábio Valentim, de viajarem para o exterior com recursos da Celesc sem que fosse exigida contrapartida dos gestores e sem autorização do chefe do Executivo. Os dois viajaram a um congresso internacional em Paris, em 2019. 

Esta é a segunda denúncia da classe contra Poleto. Em janeiro deste ano, a classe levantou suspeitas de conflito de interesses pelo fato de o presidente, em tese, ter sido nomeado enquanto empregado na Engie Brasil, concorrente da Celesc.

Na nova denúncia, da viagem à França, as organizações apontam dificuldades para identificar o quanto as viagens custaram aos cofres da empresa e pedem uma análise do Tribunal. A Celesc diz que não houve irregularidades

Na petição encaminhada à Corte de Contas, , os trabalhadores questionam as justificativas para os dois participarem da convenção, fora do país, e organizada por empresa na época impedida de contratar com o poder público no Brasil. O evento em questão era da Siemens, que estava proibida de contratar com o governo em função das denúncias de corrupção nas licitações do metrô de São Paulo.

Na visão deles, sendo um evento sobre tecnologia, o mais lógico seria a participação de um Diretor Técnico. Os trabalhadores também questionam a falta de autorização do governador do estado, já que haveria afastamento do diretor presidente da empresa.

“Não há, na deliberação da diretoria, nenhuma indicação de contrapartida dos gestores, como frequência mínima no evento, obtenção e apresentação de certificado de participação, divulgação do conteúdo abordado e, muito menos, a aplicação do conhecimento supostamente adquirido no âmbito das suas atuações na Empresa Celesc”, destaca o boletim da intersindical.

A viagem com dinheiro público foi denunciada pelos sindicatos, com pedido de responsabilização dos envolvidos e devolução dos valores à empresa. Os valores gastos, conforme pedido dos sindicatos, deve ser levantado em auditoria realizada pelo TCE.

Ligação com a Engie

Esta é a segunda denúncia que os trabalhadores fazem contra o presidente da Celesc. Em julho deste ano, o TCE aceitou tramitação do processo que aponta suspeitas de conflito de interesses do atual presidente da companhia por sua relação empregatícia com a Engie Brasil Energia S.A. – ENGIE.

Segundo esta denúncia, a nomeação de Poleto estaria em desacordo com as Leis nºs 13.303/2016 e 6.404/1976, considerando que a empresa é “supostamente concorrente da Celesc e da SCGás nos setores de energia elétrica e de gás natural”, o que poderia possibilitar a “divulgação de informação privilegiada e confidencial da Celesc pelo Sr. Cleicio Poleto Martins em favor da Engie, que também atua no setor de geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica e no de gás natural”, diz trecho da denúncia. Na mesma decisão, os conselheiros não aceitaram indicação de afastamento do cargo pedido pelos sindicatos dos trabalhadores.

Celesc diz que viagem foi autorizada

Por meio de Assessoria de Imprensa,  a Celesc informou que houve participação da empresa no ano de 2019, no Congresso European Utility Week, em Paris.

“O European Utility Week é maior evento mundial do setor elétrico.  A participação da Celesc foi deliberada pela diretoria das Centrais Elétricas conforme normativa interna. De acordo com a normativa da empresa, as viagens para o exterior devem ser liberadas e autorizadas pela diretoria colegiada”, diz trecho da nota.

O evento é uma plataforma de negócios, inovação, redes e informações para o setor elétrico que acontece anualmente para discutir estratégias de negócios e desenvolvimento do setor.