Guerra de versões

A longa sessão da CPI dos Respiradores se resumiu em uma guerra de versões, onde cada um dos ouvidos tentou se livrar tentando imputar culpa nos demais investigados. Douglas Borba, ex-secretário da Casa Civil; Helton Zeferino, ex-secretário de Saúde; e Márcia Pauli, ex-superintendente de Gestão Administrativa; todos exonerados por conta do escândalo, se apresentaram acompanhados de advogados e demonstraram preparo para as perguntas. A sessão iniciada as 17h de terça-feira só foi encerrada na madrugada de quarta, por volta das 3h.

O que ficou claro é que os três tiveram contato com o empresário Fábio Guasti e desde o início sabiam que ele era o empresário interessado no contrato firmado com a Veigamed. Na prática, os indícios apontam que a empresa teria servido de laranja e que desde o início a compra já estava acertada com a empresa carioca.

Douglas Borba foi quem indicou Leandro Adriano de Barros para tratar da compra com Márcia. Barros, que já prestou depoimento à comissão, seria a ligação de Borba com o empresário. Ele inclusive teria enviado uma terceira pessoa a uma reunião com o governo para tratar do assunto em nome da empresa.

Zeferino, por sua vez, teria falado com o empresário por telefone por diversas vezes e, segundo relatou Márcia, acertou o valor da compra como se estivesse em um Leilão. Indícios de que eles de fato conversaram por telefone também estão no processo de compra, quando a empresa indica a troca de modelo dos respiradores.

Já Márcia era que gerenciava as negociações e conversava com todos os demais envolvidos no sentido de fazer as cobranças, quando pedidas pelo ex-secretário Zeferino, ou recebendo informações da empresa fornecedora através de Barros.

No ar ficou sem resposta de porque a Veigamed e o empresário Fábio Gusati foram privilegiados no processo, que começa com a confecção da proposta fraudulenta e com indícios de participação de gente de dentro da Secretaria de Saúde.

Deputado João Amin (PP) solicitou diligência para pegar gravação de reuniões em vídeo na sede da Defesa Civil. Objetivo é verificar se Zeferino participou de reuniões sobre o hospital de campanha em Itajaí.

Confira a versão impressa da coluna:  04062020

E o pagamento?

E a pergunta que não quer calar, que é quem autorizou o pagamento antecipado pelos R$ 33 milhões, acabou não sendo respondida de forma explícita. Zeferino, que era o ordenador de despesas da pasta, disse que não sabia de nada, e jogou a responsabilidade para a servidora Márcia. “O fato é que temos uma nota que foi certificada e uma ordem de pagamento que foi encaminhada pelo mesmo servidor. Temos uma Dispensa de Licitação que não fala de pagamento antecipado. Está claro o que aconteceu”, completou.

Empurra

Márcia, por sua vez, foi taxativa ao afirmar que acredita que a responsabilidade pela compra dos respiradores é do secretário Helton Zeferino:  “A negociação foi fechada dia 26 de março pelo secretário Helton, que presidia o Coes [Centro de Operações de Emergência em Saúde]”,

Borba

Douglas Borba ao que tudo indica participou da indicação da empresa para a venda dos respiradores, mas aos deputados disse não ter tido nenhum envolvimento com a compra e pagamento. Questionado, disse que foi o próprio secretário Helton que indicou a servidora Márcia como referência para envio de propostas. “Várias pessoas acessavam o governo buscando alternativas para que o governo pudesse adquirir os insumos. Deveríamos fazer todos os encaminhamentos à Marcia [Pauli]”, afirmou.

Defesa 

Ex-presidente do Tribunal de Justiça, Nelson Schaefer Martins está na defesa da ex-superintendente Márcia Pauli. Durante a sessão da CPI ele deu instruções à cliente que por várias vezes o consultou ao pé do ouvido

 

Jornalistas

Edição e textos: Fábio Bispo
Conteúdo e redes sociais: Eliane Ramos