No novo Badesc, politicagem dá lugar a critérios técnicos

 

Eduardo Alexandre Corrêa de Machado, economista graduado (UFSC) e chegando ao final da graduação também em Contabilidade (Estácio), tem MBA em Administração Global pela Universidade de Lisboa (Portugal/ESAG), MBA em Investimentos e Mercado de Capitais pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e é mestre em Administração (Unisul). Há 13 anos é funcionário da Agência de Fomento do Estado, o Badesc, onde já foi analista de Planejamento e Financeiro, gerente de Auditoria Interna e de Planejamento e Inovação. Há quase 100 dias assumiu a presidência e emplacou um novo estilo, que se percebe até na hora da entrevista.

Ao invés de receber os jornalistas da ADI-SC e da Adjori-SC no gabinete da Presidência, recebe na sala de reunião. Simplesmente porque o gabinete da Presidência não existe mais, uma vez que foi transformado em um amplo espaço de trabalho ocupado pela diretoria, sem divisórias, sem diferenças hierárquicas.

Machado comemora os novos caminhos da agência de fomento catarinense.

“Não me lembro de tamanha proximidade das secretarias com o Badesc e vice-versa. O trabalho é feito em sintonia e com muita colaboração pelo conjunto do governo.”

 

Entrevista

 

ADI-SC/Adjori-SC – O senhor assumiu há três meses. Como foi a condução nesse período e o que pôde ser feito?

Eduardo Machado – Temos estabelecida uma agenda dos 100 dias de gestão da nova diretoria, período que vamos completar agora, em 16 de junho. Estabelecemos uma agenda de trabalho, externa e interna, com importantes entregas, em especial para a sociedade empresarial catarinense, que é o nosso carro-chefe, é para quem existimos. Trabalhamos intensamente nesses quase 100 dias e, por exemplo, já temos um novo modelo completamente reformulado para concessão de crédito aos municípios catarinenses, no programa Badesc Cidades. Ele

 

consiste na troca de um modelo partidarista, digamos assim, para um modelo onde prevalecem critérios totalmente técnicos.

 

ADI/Adjori – Que critérios são esses e o que muda efetivamente?

Eduardo Machado – Pontuamos o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do município, a evasão populacional, quanto recebe de tributos federais e estaduais, se já foi cliente do Badesc, se tem contrato ativo nos últimos cinco anos com o banco… Estes e outros critérios técnicos nos ajudaram a ranquear os projetos que seriam prioritariamente atendidos. Fizemos um protocolo de intenções, algo igualmente inovador, fizemos contato com a Fecam (Federação Catarinense de Municípios) e, pessoalmente, com todas as prefeituras no sentido de convidá-las a apresentarem seus projetos para o Badesc. Esses projetos também foram pontuados de acordo com seu objetivo, enquadrados nos critérios o que nos levou ao ranking de prioridades. Recebemos R$ 246,5 milhões em projetos de 87 prefeituras.

Na primeira etapa vamos atender 58 projetos, os mais bem pontuados, que somam quase R$ 60 milhões. Como a bandeira do governador Carlos Moisés é a da infraestrutura, nos pautamos por aí, dando mais pontos às propostas que favoreciam a infraestrutura municipal, como pavimentação, máquinas e equipamentos…

Uma informação que considero importante é que queremos avançar para mais etapas ainda em 2019, chegando talvez a três etapas para atender os 246,5 milhões em projetos que recebemos.

 

ADI/Adjori – Qual o perfil das cidades que tiveram os projetos selecionados?

 Eduardo Machado – Na sua grande maioria são pequenos e médios municípios. Nenhum grande município foi contemplado nessa primeira etapa. Apresentaram, mas não foram contemplados. Existe uma limitação de R$ 20 milhões por projeto e o valor para a primeira etapa está pulverizado, como falei, em pequenas e médias cidades catarinenses. Uma diferença importante da concentração dos recursos que antes se dava até por força de sigla partidária.

Agora, vemos os pequenos municípios do Oeste do estado levando a maioria dos recursos contemplados. Independentemente de quem é o prefeito ou seu partido. Esse foi um desafio que o governador Moisés nos deu.

 

 

ADI/Adjori – Qual o desafio?

Eduardo Machado – Quando fomos falar do Badesc Cidades para o governador, ele disse ‘esse programa pode ser melhorado’. E por isso entregamos esse novo modelo, que, eu diria, é um modelo revolucionário, porque privilegia o município que mais necessita de desenvolvimento, seja porque ocorreu uma evasão populacional muito grande, ou porque o IDH é abaixo do amplamente aceito, ou ainda porque nunca foi cliente do Badesc antes. E aqui vale um destaque: na história do Badesc Cidades, criado em 1999, só não atendemos 13 municípios. Desses 13, dois foram contemplados agora pelo critério técnico de nunca ter operado com o Badesc antes. Se fosse com outra metodologia, talvez continuassem de fora. E já colocamos como meta de diretoria visitar, até o final de agosto, os prefeitos dos onze municípios que nunca acessaram recursos com o Badesc.

Outra vantagem que preciso destacar é que o novo modelo reduz o ticket médio com o setor público. Tínhamos uma concentração de recursos bastante significativa e essa concentração praticamente se desmanchou com esse novo modelo e a nova tecnologia. Se formos comparar como contratava antes de como contrato agora, antes a concentração de recursos era muito maior em alguns municípios do que temos hoje. Hoje eu tenho uma pulverização dos recursos, atendendo mais municípios com valores menores, mas com grande impacto em geração de empregos locais, em atividade econômica e em melhoria de qualidade de vida para as populações.

 

Mais proatividade com o setor privado

 

ADI/Adjori – Há uma mudança também nas gerências regionais. Elas deixarão de existir?

Eduardo Machado – Essa foi outra importante entrega que temos para os 100 dias, que é remodelagem de atendimento aos clientes do setor privado. É um novo jeito de interagir com o mercado, que consiste em o Badesc estar mais presente e mais próximo do empreendedor catarinense. Como funcionava antes? Eu tinha seis escritórios nas principais mesorregiões – Florianópolis, Joinville, Criciúma, Lages, Chapecó e Blumenau. Nossos gerentes faziam algumas visitas, de acordo com a interação com as entidades empresariais, mas, sobretudo, ele lidava com trâmite interno dos processos dos clientes, lá na ponta. Ele atendia uma demanda espontânea do empresário em procurar o Badesc.

No novo modelo, continuamos tendo a presença do gerente de negócios atendendo a mesma região, mas com uma agenda direcionada e elaborada pela sede.

 

ADI/Adjori – E o que pesa para a definição dessa agenda?

Machado – Fizemos a contratação de um software de Big Data (grande variedade de dados que chegam em volumes crescentes e com velocidade cada vez maior e informações relevantes para o mercado; Gartner, 2001). Esse software nos ajuda a filtrar um cliente em potencial, de acordo com nossa estratégia empresarial. Por exemplo, temos cerca de R$ 75 milhões em 2019 para financiar iniciativas de inovação. Nós tínhamos uma dificuldade de encontrar o cliente de tecnologia. Os empresários de tecnologia, em sua maioria, são pequenos e estão tomados pela rotina da empresa. Eles não têm condição de sair e ir até um escritório do Badesc. Por isso o modelo foi alterado. Agora o Badesc vai encontrar esse empreendedor na sua base, agendar a visita e oferecer a solução financeira que pode modificar a realidade daquele negócio de tecnologia.

 

ADI/Adjori – Na prática, o que é esse novo modelo?

Machado – Esse novo modelo consiste em sermos mais próximos do empreendedor catarinense através da visita presencial lá, no empreendimento. Isso requer um esforço interno, porque impacta na nossa cultura, porque trabalhamos com um mesmo modelo por mais de 20, 25 anos. Agora vamos ter Nesse processo, maior aproximação com as associações empresariais, que poderão ser grandes parceiras na prospecção de novos clientes. Essa mudança traz benefícios para o empreendedor, mas traz mais preocupação e trabalho para nós, badesquianos, porque o volume de processos para analisar vai ser muito maior. Em 2018 eu tinha cerca de 420 atendimentos ao empresariado catarinense. No novo modelo, pretendemos visitar pelo menos 4,1 mil empreendedores em 2019, mirando em 5% de conversão em contratos.

Foram 86 contratos em 2018 todo e, até agora, em 2019, já tivemos 96 contratos para o setor privado. Ou seja, no primeiro quadrimestre já temos mais contratos do que em todo o ano passado. Passamos a ser mais pró-ativos e os resultados já estão aí.

 

ADI/Adjori – Os recursos humanos do Badesc são suficientes para tantas metas ousadas?

Machado – Não temos previsão de novos concursos. Mas estamos investindo muito em tecnologia, que vai me dar um salto qualitativo, ampliando o atendimento e com respostas mais rápidas ao empreendedor.

 

Fim de diretorias, assessorias e regalias

 

ADI/Adjori – As mudanças internas param por aí?

Machado – Não. Dentro das entregas que estamos fazendo nesses 100 primeiros dias da nova diretoria temos uma reorganização interna. Com a autorização, concordância e, eu diria até exigência do governador, nós reduzimos de quatro para três o número de diretorias, revimos e renegociamos todos os contratos com fornecedores, eliminamos gerências e assessorias. Acabaram, por exemplo, os lanches, quase cafés coloniais, servidos durante as reuniões de diretoria. O resultado das urnas mostrou que a população não aceita mais isso. Com essas e outras ações chegamos perto dos R$ 4 milhões de economia por ano, algo em torno de 10% do nosso custeio anual. Ao invés de manter a máquina interna, esse valor economizado vai virar crédito ao empreendedor. E isso era uma ânsia do corpo funcional do Badesc: diminuir o tamanho da própria máquina para melhorar os resultados. Se eu for mais ágil, atender melhor e mais rapidamente, ele vai me pagar também com mais celeridade e poderemos reinvestir esse recurso que volta em outro negócio. A nossa demora pode colocar um negócio a perder.

E o nosso recurso só tem serventia se está lá na empresa, lá no município, girando a economia. Dinheiro de uma agência de fomento que fica guardado no caixa é o pior negócio possível, porque sequer cumpro minha missão institucional.

 

ADI/Adjori – O senhor é funcionário de carreira do Badesc e tem seguido o discurso da gestão técnica. O Badesc está com uma cara nova? O senhor está satisfeito até aqui?

Machado – Eu acho que a estamos transformando o Badesc, assumindo uma visão empresarial do negócio. Na realidade anterior, a sala do presidente era só dele e hoje é compartilhada entre os diretores. Cada diretor tinha uma mega estrutura, secretária, carro e outras vantagens do cargo. O que estamos implementando aqui é uma gestão voltada para resultados. O que o empresariado sempre quis era ser atendido. Agora, nós vamos ter, com esse modelo mais técnico de gestão, a possibilidade de atender mais empreendedores. Então eu diria… o Badesc tem uma nova cara?

Sim, tem uma cara mais próxima do empreendedor catarinense. Tínhamos uma postura muito tímida em relação ao mercado e assumimos uma postura muito mais agressiva.

Aqui cabe um comentário relevante: estamos falando de uma taxa de conversão de 5% para os 4.100 atendimentos projetados. Algo em torno de 200 contratos. E 200 novas contratações melhoram a nossa performance operacional e vai qualificar o nosso resultado,  porque eu vou ter condições de apoiar os melhores projetos que existem em Santa Catarina e não aqueles que aparecem no Badesc. Antes, eu atendia quem aparecia aqui. Agora, eu atendo aqueles que eu analisei e verifiquei que vão ter maior impacto regional. E isso faz uma diferença gigantesca quando se fala do cumprimento da missão institucional de uma agência de fomento, que é auxiliar financeiramente no desenvolvimento regional por meio de financiamentos de médio e longo prazo.

 

ADI/Adjori – Isso pode facilitar a captação de recursos para serem operados pelo Badesc?

Machado – Isso qualifica o Badesc a buscar mais recursos, sim, inclusive outras fontes que não só as que nacionalmente são disponibilizadas. Hoje, as fontes nacionais são Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). E o Badesc ainda opera com recurso próprio. Inclusive nós já contratamos um rating institucional (nota que as agências de classificação de risco de crédito atribuem a um emissor, pode ser um país, empresa ou banco, de acordo com sua capacidade de honrar uma dívida) e essa é uma entrega dos 100 dias. E esse rating institucional vai nos possibilitar captar recursos internacionais. Ontem (quarta-feira, 5), inclusive, fizemos uma reunião por telefone, uma análise inicial, com o Fonplata (Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata), um banco multinacional do qual fazem parte Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Peru.

Eles nos procuraram porque souberam dessa mudança no modelo, dos critérios técnicos para financiar prefeituras, e querem participar colocando recursos deles para nós operarmos.

 

 

Organismos nacionais e internacionais como parceiros

 

ADI/Adjori – Qual a vantagem para o Fonplata?

Machado – Vamos dar muito mais capilaridade aos recursos deles do que ele trazendo uma equipe para visitar e atendendo prefeituras e municípios com mais de 100 mil habitantes, critério que mantêm. E com a possível parceira, vamos atender municípios com populações abaixo dos 100 mil habitantes, aplicando nossos critérios, que são desenvolvimentistas. Temos outras fontes possíveis de captação, como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), com o qual já vínhamos namorando uma possível parceria para projetos, especialmente para inovação.

Tem ainda o CAF (Corporação Andina de Fomento ou Banco de Desenvolvimento da América Latina), que também já demonstrou interesse em operar conosco. Ou seja, estamos expandindo as possibilidades de fontes de financiamento para o empreendedor catarinense. E, com isso, talvez a gente não fique só nos 5% de conversão. Possivelmente vamos ampliar, porque os 5% foram mensurado em função da capacidade de investimento do Badesc conhecida hoje.

Se a capacidade de operação for ampliada à medida que esses recursos forem contratados, vamos ampliando a contratação e o apoio a projetos de relevância do desenvolvimento estadual.

 

ADI/Adjori – O senhor tem uma projeção do que pode vir a captar nesses organismos internacionais?

Machado – Gostaríamos de captar algo entre 50 milhões e 100 milhões de dólares. Se atingirmos os 100 milhões de dólares, significa dobrar a capacidade de injeção de recursos na economia catarinense pelo Badesc. E aí eu não atendo só aqueles 200 empreendedores, os tais 5%, mas salto para 400 empreendedores.

 

ADI/Adjori – Já se sabe quando haverá uma definição? Ainda em 2019?

Machado – As negociações já estão ocorrendo, mas tudo vai depender da disponibilidade de recursos da fonte financiadora e do cenário internacional. O recurso lá fora também está travado em dólar e a fonte pode optar por aguardar alguns meses até que o cenário se mostre mais claro. As negociações já começaram, estamos ponderando e negociando taxas e prazos para oferecer as melhores condições para o empreendedor catarinense – menor taxa, maior prazo de carência e de amortização.

Negociação na mesa: temos com Fonplata e Citibank. Em fase de prospecção temos o CAF, a Agência Francesa de Desenvolvimento, BID, Grupo Bancário KfW, alemão, e a Agência de Cooperação Internacional do Japão, a JICA.

 

Cenário econômico

 

ADI/Adjori – Algumas pesquisas sobre o cenário econômico apontam para confiança baixa de empresários e consumidores. Qual sua avaliação sobre o ambiente de negócios para investimentos?

Machado – De fato, temos duas grandes e importantes agendas que estão causando preocupação. Não só para o Badesc, mas para o cenário nacional como um todo. A primeira agenda é internacional, que é essa possível guerra comercial entre Estados Unidos e China. Isso preocupa significativamente, porque o que acontecer de negativo nessa relação impacta em todos os mercados, em especial naqueles que estão em desenvolvimento, caso do Brasil que, aliás, está entre os que menos têm se desenvolvido. Isso traz preocupação porque, como essas captações de recursos internacionais são sempre travadas em moeda estrangeira, em dólar, qualquer oscilação pode resultar num recurso mais caro.

Olhando a nossa capacidade de captação de recursos para aplicação na economia também devemos prever de que maneira o empreendedor está visualizando esse temor, esse risco. Aqueles que dependem de importação de matéria-prima ou trabalham basicamente com exportação dos seus produtos estão extremamente apreensivos com essa situação, que já vem impactando no nosso câmbio.

Se não bastasse essa crise entre Estados Unidos e China, tem a agenda nacional que passa pela reforma da Previdência. Por que eu chamo a atenção para isso? Porque isso, inevitavelmente, impacta e compromete os planos de longo prazo. Especialmente dos empresários. Como se sentir seguro em fazer um investimento de 10, 15 anos, se ele não sabe se em 15 anos o Brasil vai ter menos capacidade de investimento porque gastou mais com Previdência.

Então, há ligação bastante importante entre o desenvolvimento de longo prazo a partir da decisão de investimentos dos empresários com essa questão da reforma da Previdência, que tem por objetivo principal reduzir o tamanho do Estado para transformar recursos em investimentos. Em quê? Em infraestrutura, em tecnologia… Essas questões têm levado os empresários a ficarem mais receosos com investimentos de longo prazo.

Por vezes, aquele empresário que tinha pensado em fazer outra planta fabril para dobrar a sua produção, pode repensar e aguardar o encaminhamento dessa questão para ver se teremos alguma estabilidade no país projetando o longo prazo.

 

ADI/Adjori – Como o Badesc se posiciona neste cenário? O banco também precisa se proteger de riscos…

Machado – Todos os projetos que chegam ao Badesc passam por uma ampla análise operacional, que avalia mercado, condição financeira da empresa, impacto no desenvolvimento regional… Essas questões todas são analisadas na hora de aprovar a concessão de um investimento. Temos riscos calculados e exposições calculadas. Por isso que dos 4,1 mil atendimentos só projetamos transformar 5% em contratos, para tentar impactar o máximo possível no desenvolvimento local, mesmo que sejam projetos de longo prazo, com menor risco possível. O que levamos em conta? São as empresas que vêm crescendo substancialmente e têm um plano de continuidade de desenvolvimento – o impacto que aquele novo investimento vai gerar naquela região, no desenvolvimento local, na expansão da empresa, na geração de emprego, no aumento de renda.

Essas são questões de altíssima relevância para nós, porque se não cuidássemos desses critérios, não conseguiríamos cumprir nossa missão institucional.

 

Setores na mira

Foto: Welton Máximo/Agência Brasil

 

ADI/Adjori – O senhor falou sobre inovação e infraestrutura. Tem algum outro setor que o Badesc vai priorizar?

Machado – No setor privado, maciçamente em tecnologia, inovação e ampliação da capacidade produtiva do negócio. Temos intenção, e aí é desafio futuro, de operarmos com o setor agroindustrial. Hoje, o Badesc tem uma carteira muito pequena de Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), que foi contratada há algum tempo e ainda existe para algumas pequenas operações. Mas queremos voltar a operar com o setor rural, especialmente, com a agricultura familiar. Temos uma agenda com o secretário de Estado da Agricultura, Ricardo de Gouvêa, justamente para desenvolvermos um programa envolvendo a Epagri e a Cidasc. Queremos montar um importante programa de apoio ao desenvolvimento e à ampliação da agricultura familiar e dos empreendimentos rurais. E aí inclui a indústria do agronegócio.

 

ADI/Adjori – Um programa do Badesc que fez muito sucesso foi o Juro Zero. Continua existindo?

Machado – Sim, ele continua operando, mas não tem a mesma divulgação que tinha antes, porque esse programa de microcrédito a juro zero é do governo do Estado com o apoio do Badesc. O Badesc gera dividendos para o Estado, uma vez que o Estado é acionista do Badesc, e esse dividendo paga o juro do empreendedor que foi adimplente nas sete primeiras parcelas, e tem a oitava subsidiada para compensar o que seriam os juros. Mas temos o Programa Microcrédito, que existe desde 1999. É um programa de alto impacto que o Badesc opera no segundo piso da operação, ou seja, o Badesc fomenta as Instituições de Microcrédito Produtivo Orientado (IMPOs) que, por sua vez, repassam para o microempreendedor. Inclusive, o Badesc foi o precursor e o grande apoiador dessas organizações, que na época eram as Oscips (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), hoje IMPOs.

 

ADI/Adjori – O que significa esse serviço para quem está lá na ponta?

Machado – Enquanto nós continuamos operando com essas entidades, lá na ponta elas continuam promovendo o desenvolvimento e garantido acesso ao crédito àquele microempreendedor que não é atendido pela indústria bancária tradicional. E

o Badesc continuará sendo público, do Estado e de fomento, o oposto dessa indústria bancária que tem por objetivo único o lucro e a geração de receita. Precisamos ter resultados positivos, é claro, mas a visão é desenvolvimentista.

No caso do Juro Zero, o limite é de R$ 3 mil por empreendedor, que pode fazer até duas operações por ano. Já o Microcrédito, as IMPOs operam até R$ 15 mil e acompanham o empreendimento. Não é só o crédito pelo crédito, mas um cuidado maior para que o negócio se mantenha e cresça.

 

Bala na agulha

 

ADI/Adjori – Considerando a disponibilidade atual, sem as possíveis novas captações, quanto o Badesc tem para colocar no mercado em 2019?

Machado – Hoje nós temos, para o setor privado, incluindo as operações de microcrédito, algo em torno de R$ 330 milhões e para o setor público algo em torno de R$ 130 milhões. Para este último existe uma interação, um trabalho conjunto, por ordem do governador, com a Secretaria da Fazenda e Casa Civil, para conseguirmos ampliar o atendimento. Gostaríamos de atender 100% daqueles projetos que nos foram apresentados no Badesc Cidades.

 

ADI/Adjori – No governo passado, houve a capitalização dos bancos de fomento, tanto Badesc quanto o Banco de Desenvolvimento da Região Sul, o BRDE, para investir e resistir à crise. O governador Moisés também acena com essa possibilidade?

Machado – Os valores que informei são a minha disponibilidade atual. Isso quer dizer que vou ter uma retroalimentação, porque minha carteira de crédito é algo em torno de R$ 700 milhões em mais de 1,3 mil empreendimentos públicos e privados. Na proporção em que volta R$ 1 milhão para nós, significa dizer que tenho mais R$ 1 milhão para investir.

O governo do Estado tem, sim, a intenção de aumentar o fomento e o apoio ao desenvolvimento, tanto que já se disponibilizou a nos ajudar na captação de recursos internacionais. Isso amplia as nossas possibilidades, porque o Estado pode entrar como avalista na operação.

 

ADI/Adjori – Como está hoje a taxa de inadimplência do Badesc?

Machado – É uma taxa bem próxima da que se observa no restante do mercado. Considerando o critério das inadimplências com mais de 90 dias, está perto de 2%, índice plenamente aceitável e alinhado com o mercado. E estamos sempre recuperando esses créditos. Temos uma área exclusivamente voltada à recuperação de crédito. Por outro lado, é muito alto o nosso estoque de dívida acumulado desde a criação do Badesc, há 44 anos. Estimo entre R$ 300 milhões e R$ 400 milhões. Alguns desses créditos já damos como perdidos, outros estão em execução judicial e não sabemos qual vai ser o resultado.

Mas é muito importante destacar que o Programa de Microcrédito e o Badesc Cidades têm inadimplência zero.

 

ADI/Adjori – Falamos dos 100 dias, mas o que está sendo planejado para frente?

Machado – Estamos pensando para o segundo semestre, e já temos um grupo de trabalho com a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDS) e a Fapesc (Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado), a criação de um grande fundo de Venture Capital (ou capital de risco) e Seed Capital (capital semente), voltado para as empresas de tecnologia. O primeiro para a expansão dos negócios de tecnologia e o segundo para tirar startups de dentro das incubadoras. Esse Fundo deve ter um capital de R$ 6 milhões a R$ 10 milhões. Depois que ele estiver totalmente desenhado, com sua estrutura técnica e de comitês, queremos fazer uma rodada de captação de recursos para a integralização desse fundo. O Citibank já demonstrou interesse em participar, o BNDES também deve participar.

 

 

Entrevista: Murici Balbinot (Adjori-SC) e Andréa Leonora (ADI-SC)
Edição: Andréa Leonora
Fotos: Jaqueline Bassetto/Ascom Badesc