Definições e questionamentos de uma bancada dividida
Foto: Agência AL

O deputado Mauro de Nadal (foto), do MDB e primeiro vice-presidente da Casa, listou os nomes dos emedebistas que vão ocupar outras posições no Legislativo. Romildo Titon, por exemplo, vai presidir a mais importante comissão, por onde entram os projetos, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Ele já presidiu a CCJ por seis anos e a escolha foi bem recebida inclusive por parlamentares de outros partidos. Titon domina bem a Casa, o Regimento Interno e a Constituição Estadual. Ao mesmo tempo, garante tratamento igualitário aos demais oito membros da instância. Ao SCPortais ele lembrou que foi quando  presidente da CCJ que tramitou na Casa o Código Ambiental, ainda no governo de Luiz Henrique da Silveira.

Titon gosta de trabalhar dando celeridade às tramitações. Recebe e já distribui as matérias, exige cumprimento de prazos e se perceber morosidade, pede explicações. “No que depender de mim, não haverá centralização ou dificuldades. Os projetos vão fluir como tem que ser.”

Outro mérito de Titon de sua passagem anterior pela CCJ, e que pretende manter agora, é a “anunciada número 1”, que impede que matérias inconstitucionais, geralmente por vício de origem, sigam para outras comissões e para votação em Plenário. “Às vezes a iniciativa é boa, os demais não querem chatear o colega de comissão e a proposta acaba sendo aprovada mesmo sem dever. Isso cria falsa expectativa na população e demandas desnecessárias para o Tribunal de Justiça”, justificou.

 

Outros espaços

O deputado Fernando Vampiro será o líder da bancada, enquanto a deputada Ada De Luca, secretária de Justiça e Cidadania no governo Raimundo Colombo/Eduardo Moreira, será a presidente da Comissão de Direitos Humanos. O novato Jerry Comper assumirá a presidência da recém-criada Comissão de Assuntos Municipais, enquanto o também novato Fernando Krelling presidirá a Comissão de Relacionamento Institucional, Comunicação e do Mercosul ou a de Turismo e Meio Ambiente. Ainda há uma negociação entre partidos. Outro estreante, Volnei Weber, foi escolhido para presidir a Comissão de Ética e Decoro Parlamentar.

 

Contou os nomes em destaque nos trechos acima?

Pois é. Somente sete em uma bancada de nove deputados, a maior do Legislativo estadual. Os dois que ficaram de fora são Valdir Cobalchini e Moacir Sopelsa, que chegaram a colocar seus nomes para a presidência da Assembleia. Não obtiveram êxito e desde então vem se abrindo um verdadeiro fosso entre os dois lados.

Mais do que a mensagem do governador, o que movimentou a Assembleia nessa terça-feira (05) foi exatamente o clima na bancada emedebista. Os corredores da Casa – que têm olhos, ouvidos e, quando convém, também têm boca-, são testemunhas disso.

Antes mesmo da seleção de nomes do MDB para as comissões, Sopelsa já vinha falando em sair do partido, o único em que esteve filiado em 40 anos de vida pública, para os quais exige respeito. De tão irritado, teria desestimulado, com veemência, a filiação de um ex-prefeito do Alto Vale no partido. Cobalchini também vem demonstrando sua insatisfação e desconforto, principalmente por meio da imprensa.

 

Elucubrações

O fato é que política não é uma ciência exata. Mas para ser político é necessário calcular o tempo todo, sabendo que cada decisão terá uma repercussão que, aliás, nem sempre estará de acordo com a estratégia definida.

Por exemplo, se os dois, Sopelsa e Cobalchini, saírem do partido, correm o risco de perder o mandato. Para que isso não aconteça, ou fundam um novo partido ou apresentam uma justificativa muito forte para a decisão, como perseguição que atrapalhe o cumprimento do mandato. Aí o imbróglio vai parar no TRE podendo chegar ao TSE.

No caso de saída, o partido tem 30 dias para pedir os mandatos, podendo optar por não pedir, na linha boa vizinhança. Aí, abre-se o prazo de mais 30 dias para que os suplentes-, Dirce Heiderscheidt, que não se reelegeu, e Valter Gallina, ex-presidente da Casan -, pedirem suas efetivações como deputados no lugar de Sopelsa e Cobalchini.

O outro lado dessa possibilidade é que, caso a saída de ambos se efetive, e sem perda de mandato, o MDB passa de nove para sete deputados na bancada. Não faz sentido abrir mão de força política (juntos Sopelsa e Cobalchini têm mais de 84 mil votos) em uma legislatura que promete ser das mais intensas. Ainda assim continuaria sendo a maior bancada, mas com apenas um parlamentar a mais que o PSL.

Os cálculos precisam ser muito bem feitos por todos os envolvidos. A busca do entendimento é o melhor caminho. Agora é preciso saber quem entre os emedebistas da Assembleia terá condições de encaminhar esse entendimento. Ou se a solução terá que vir de fora.

 

Com a palavra, Sopelsa e Cobalchini

Foto: Agência AL

O deputado emedebista Moacir Sopelsa, com mais de 40 anos de filiação e dono de quase 35 mil votos nas últimas eleições, que o levaram ao sexto mandato, ficou surpreso ao saber, pelo SCPortais, que já havia uma definição sobre as presidências das comissões que caberão ao MDB. Afirmou não ter sido consultado, disse que não é convidado para as atividades da bancada e estranhou, como municipalista que é, sequer ter podido apresentar seu nome para a presidência da Comissão de Assuntos Municipais. “Mas ainda  teremos votação na própria comissão”, fez questão de lembrar.

Ele comentou que “esse tipo de atitude está contribuindo para um ainda maior distanciamento” – dele em relação ao restante da bancada, à exceção do deputado Valdir Cobalchini. “Não consigo entender. É retaliação? Se isso for mesmo confirmado, vou buscar meu espaço. Mas de dentro do MDB. O partido está muito acima de tudo.” Mas completou afirmando que “não são o vice presidente da Casa (Nadal)  ou o líder da bancada (Vampiro) que vão decidir  vida de todos”.

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Bancada desbancada! O trocadilho seguido de uma sonora risada veio do deputado Valdir Cobalchini. Mas logo o clima leve se desfez. Ele também se declarou surpreso com a lista apresentada pelo deputado Mauro de Nadal, que exclui o seu nome e o de Sopelsa. Por uma coincidência, Cobalchini estava no gabinete do deputado Fernando Vampiro, novo líder da bancada, entregando um documento em que apresenta seu nome para a presidência da CCJ. “Nos tempos de normalidade, até o dia 31 de dezembro do ano passado, eu era o vice-presidente da CCJ e presidente da Comissão de Meio Ambiente e Turismo. Agora formalizei a intenção de ascender”, explicou, de certa forma intrigado com o fato de o próprio Vampiro não ter lhe falado sobre a escolha do nome de Titon para a CCJ.

Cobalchini afirmou não ter qualquer confirmação em torno dos nomes ditados ao SCPortais por Nadal. “Uma vez confirmado, fico desapontado. Decepcionado. Nunca trabalhei para nada pessoal. Mas mandato é algo sagrado. Pela terceira vez consecutiva sou o mais votado do MDB, com mais de 49 mil votos no último pleito. Sou vice-presidente, já fui presidente… Não quero privilégio, mas democracia partidária.”

Na conversa por telefone com nossa reportagem, ficou procurando motivos para o afastamento que acredita estar lhe sendo imposto. “A sociedade me confiou um papel que o partido não pode simplesmente me tolher de cumprir. Qual foi o ato que eu pratiquei? Votei, no dia primeiro (dia da posse) na chapa acordada! Muito embora eu entenda que o MDB, por ter a maior bancada, tinha o direito da presidência. Eu estava em uma construção muito adiantada para a presidência. E o que aconteceu? O partido trocou a presidência pela vice-presidência. Um grande equívoco!” Para ele, o fato de ter “ousado querer ser presidente, e o Sopelsa também”, gerou retaliação contra ambos. “Qual foi nosso pecado? Era legítimo! Então tira esse Democrático e deixa só o “MB” na sigla do partido”, ironizou. “Onde é que está a democracia?”

Assim  como Sopelsa, Cobalchini diz que não participou das decisões da bancada – formação de chapa, escolha de líder e presidência das comissões que cabem ao MDB – e que não tem sido convidado para as atividades do grupo. Mudando o tom, soltou um “a vida segue”, avisando que vai tocar o mandato com soluções criativas para não ser prejudicado.

Sair do partido, garante, não é uma alternativa. “Não posso abdicar ou arriscar o mandato. Estaria traindo meus eleitores. Mas não posso aceitar o que está acontecendo, porque meu eleitor também não aceita que eu seja relegado dentro da bancada.” Agora Cobalchini vai aguardar duas coisas: a confirmação das decisões tomadas pelo conjunto dos demais colegas e uma resposta para sua indicação para presidir a CCJ. “Eles têm que dar um sim ou um não. Se não vier resposta, é não”, disse, mantendo o suspense sobre as cenas dos próximos capítulos.

Em tempo: Em plena crise interna,  os deputados estaduais do MDB foram convidados pelo governador Carlos Moisés para um jantar, na noite dessa terça-feira (5), na Casa D’Agronômica. Pelo menos dois emedebistas afirmaram que usariam os dois ouvidos para ouvir e a boca apenas para comer. Falar, muito pouco. Não querem abrir o flanco e entrar como base do Executivo no Legislativo.

Por Andréa Leonora